2005/06/16

Porque é que continuava o diálogo silencioso, mas fervilhante? Porque é que insistia, talvez teimosamente, numa partida que seria até existente apenas na sua cabeça? Porque o que via era uma mente diferente, um mundo vasto, um universo de uma riqueza extraordinária, muito além dos diálogos rotineiros e gastos que povoavam a sua existência. Ali, apenas à distância de quem merecesse, de quem conseguisse desvendar o segredo de tão fabuloso cofre.

Que brotaria dessa caudalosa fonte? Quem teria alimentado o manancial onde se refrescara durante aqueles breves instantes, que recorda quase como a experiência de uma vida inteira? Será que conseguiu deixar claro que nunca viveu tal intensidade e que está convicto que não a voltará a viver com mais ninguém? Será que lhe repetiu, ao menos de forma a que ela notasse, que ela ficará como A única adversária que lhe conseguiu fazer frente? A quem nunca se permitiu dar qualquer facilidade, porque significaria ficar ainda mais para trás?

Nunca lhe dirá isto, nunca lhe dirá que a distância é demasiada, que há uma tempo para tudo e que o deles não coincidiu. Não lhe dói esta ideia. O que lhe dói é pensar que lhe poderia fazer bem ouvi-lo, como lhe fez a ele muito bem o pouco tempo que se permitiram, mas que não vai conseguir dizer-lho.