2006/10/24

Schumacher


Em tempos idos fui um maluquinho da fórmula 1. Como tantos outros, isto é tudo uma questão de modas e nesses dias era uma das coisas que estavam a dar. Não ia aos grandes prémios, mesmo nos anos do Estoril a festa ficava cara, pelo que só em 1993 reuni as condições necessárias para realizar o sonho. Creio ter sido a melhor corrida do Pedro Lamy, apesar da desistência, pelo que acabou por ser uma estreia feliz, a minha como espectador.

Mas desde os 15 anos que lia semanalmente o jornal dos automóveis, de ponta a ponta, todas as modalidades, sendo que a minha preferida era, e continua a ser, o rali. Aos ralis ia com alguma frequência, sobretudo ao rali de Portugal, ainda nos tempos dos 5 dias de prova e em que a classificativa de Arganil tinha 50 km.

Tudo isto para falar de Schumacher, que abandonou a fórmula 1 no passado domingo após a mais brilhante carreira até ao momento na modalidade. Como piloto sempre o admirei. Não concordo com a forma como resolveu algumas das corridas, nem sempre foi leal para com os seus adversários. Mas essa é uma das minhas limitações, o não conseguir esticar a corda até ao ponto em que está prestes a partia. Quando não parte, permite chegar onde poucos conseguiram. Schumacher é dos que sabem ser arrogantes, ou porque têm alguma particularidade física pouco comum, ou simplesmente porque alcançaram a sorte que procuraram.

Tenho para mim que é um sobredotado, quando conduz, o automóvel passa a ser uma extensão do seu corpo, de tal forma que dá a impressão que as suas ramificações nervosas se estendem até aos pneus, ao motor, à caixa de velocidades. Levou a Ferrari de volta às vitórias, após um longo calvário desde Jody Scheckter, em 1979, o que revela as suas extraordinárias capacidades. Sendo Jean Todt outro dos campeões do desporto automóvel, não creio que transformasse a Ferrari no que é actualmente sem o contributo de Schumacher. E mais difícil seria se ele estivesse noutra equipa.

Mais do que a sua rapidez, a inteligência e rapidez de raciocínio que sempre demonstrou foi a grande arma para os sucessos alcançados. Basta recordar a forma desconcertante como trocava de pneus nas corridas em que a pista alternava entre piso seco e piso molhado e a forma como os aproveitava nas voltas rapidíssimas que dava quando alguém que seguia à sua frente entrava nas boxes e ele sabia que tinha de entrar a seguir com vantagem suficiente para regressar à corrida na frente.

Aos 37 anos sai na altura certa, deixando a impressão de que poderia aumentar os 7 títulos de campeão do mundo conquistados, tal a facilidade com que realizou voltas mais rápidas na corrida de domingo passado.