2005/08/23

Calhaus


Calhaus. Agrestes, frios, silenciosos, imóveis... E, no entanto, via-os como explosões de vida! Representam o limite, o fim da terra de encontro ao mar! Aquele mar que investe contra as rochas, que as gasta, parte, desfaz com o passar do tempo. Mas dá-lhes igualmente vida, num vaivém incansável, os mistérios que se encerram em cada fenda, em cada pequeno espaço inundado que representa um enorme universo entre a descida das águas e seu regresso diluviano, umas horas depois.

Continuava a sentir-se renovado sempre que atingia um novo limite geográfico. Quando era muito novo sentia um arrepio percorrer-lhe o corpo ao imaginar-se na contemplação de tão vigorosas manifestações da natureza na companhia de alguém que vibrasse da mesma forma ante tão belo cenário. Descobrira, com a desilusão própria da quebra dos encantos da juventude, que ninguém olhará para aqueles calhaus da mesma forma. Assim como ele nunca despertará para outras contemplações que tocavam aquelas com quem foi convivendo ao longo dos tempos.

Há momentos que devem permanecer reservados à contemplação solitária. No fundo, é algo que a religião descobriu há muito, mas que as regras do amor baniram, na luta desenfreada pelo mito da união das almas. Há momentos que devem ser vividos a dois, ou a união não terá massa que a mantenha agregada, mas há outros que deverão sempre continuar solitários.

1 Comments:

At 12:50 da manhã, Anonymous Anónimo said...

Aprendi muito

 

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