2008/03/28

Geometria

Desenhava-lhe na pele círculos espessos, que pretendia perfeitos na missão de espevitar os sentidos. Nas omoplatas, tatuagens descartáveis que limpava lentamente com a língua e com os guerreiros viquingues, oferecidos à boca da vítima em sacrifício fresco e doce. Mais dois círculos na curva ao fundo das costas, ante o protesto gargalhado da modelo de pele lisa e sedosa, arrepiada pelo deslizar constante ora do líquido, ora do tecido quente e húmido que devorava todos os vestígios da guloseima doce.

Em saudável alternância democrática, ela deitou-o de costas e passou a formas geométricas mais sintonizadas com o ambiente que se vivia: desenhou espirais de desenvolvimento acelerado em direcção ao centro, tendo como epicentro os botões de rosa já levemente eriçados pela antevisão dos toques mornos que se seguiriam, o do chocolate e o dos lábios sôfregos. Sentada sobre os seus joelhos, ofereceu-lhe uma das visões que mais o comprometiam pela reacção denunciadora de que o controlo emocional era apenas aparente, fazendo sobressair em toda a plenitude os sinais exteriores de boa disposição.

Aguardou a melhor oportunidade e voltou a assumir o controlo da pintura, agora contornando-lhe os seios magníficos e criando uma obra de arte ao conseguir colocar na vertical dois dos guerreiros, suportados nos pedestais cuja base de sustentação se erguia até ao infinito, apoiados por pequenas quantidades de massa castanha que ameaçava solidificar. Riu-se, prendeu um dos guerreiros entre os dentes e aproximou-se dos lábios entreabertos que o esperavam.