2007/08/23

Em período estival

Não quero acabar com o blogue. Porque gosto de escrever e porque sinto que a minha escrita evoluiu desde que verto para aqui alguns dos meus pensamentos. Mas a equação com que me deparo é de difícil resolução. Durante o dia tem escasseado o tempo disponível para a escrita, uma vez que esta não pode interferir com o trabalho em mãos. A fronteira não é fácil de definir, mas a maturidade da relação com o mundo das páginas pessoais tende a dar uma ajuda, afinal de contas não há condições para a escrita sem ligação à rede, sem estar bem alimentado e aquecido. Pois, há o pensamento de que nos podemos tornar Nobel da literatura ou até entrar no clube dos dez mais do mundo se perdermos o emprego e nos dedicarmos às letras, mas essa é outra das coisas que só acontece aos outros e, por semelhança com as más que não queremos que nos batam à porta, e por um qualquer tipo de justiça cósmica, prefiro não ser obrigado a tentá-lo.

A segunda variável da equação é que cada vez mais a minha parte activa do dia se transfere para a primeira metade do dia. O que equivale a dizer que depois do jantar fico impróprio para consumo, sobretudo para olhar para monitores. É a altura do dia em que o meu bondoso mau feitio, bondoso apenas porque não costuma deixar marcas embora reconheça que me torno numa enorme dor no rabo, por favor não interpretem mal a tradução livre da famosa expressão americana, ora dizia que o meu mau feitio se revela na sua plenitude, sobretudo sobre a forma de humor corrosivo e portas e gavetas com aceleração elevada.

Tento, pois, justificar, a ausência de letras novas neste espaço. Hoje, por via de um estranho comportamento, que me reservo o direito de não descrever, do cliente que deveria estar aos saltos com a minha ausência das últimas semanas por motivo de férias, encontrei uma aberta para compor algumas frases, tendo até dado conta que o período de cansaço físico para descanso mental me deixou bem mais limpo do que contava. Bem, isso e o facto de ter conseguido ganhar ao puto no jogo da memória, com aquelas cartas de oferta dos yoko’s.

Pois as férias correram muito bem, entre os banhos mediterrânicos e as visitas aos calhaus encastelados. Após anos de travessia do deserto, tanto literal visto aquelas planícies espanholas serem quase intermináveis como figurado pela tenacidade com que persisto em demonstrar à família as virtudes da transumância como forma de preenchimento do, dizem, subaproveitado espaço de memória de cada um de nós, começam agora a aparecer os frutos, quais citrinos, pêssegos e azeitonas que brotam das terras quentes andaluzas e me fazem pensar porque raio preferem ouvir falar castelhano em vez do muito mais pitoresco português com tempero alentejano, mesmo com o efeito secundário do questionário cultural galopante, cujas respostas tenho que consultar na wikipédia para que os mais pequenos continuem a pensar que o pai só não ganha fortunas nos concursos da televisão porque fica apavorado com a ideia de ser reconhecido na televisão. Para o ano haverá mais, sendo que será ano de grande estrada, ou seja, a distância percorrida deverá ser mais do dobro da deste ano.

Olha, gostei mesmo de escrever estas linhas. Vamos a ver se consigo largar umas farpas de quando em vez. Farpas de madeira, claro está.

4 Comments:

At 5:13 da tarde, Blogger Maria Arvore said...

Ó homem,
espeta-nos as farpas quando disse tiveres vontade. Na minha opinião, um blogue serve para nos fazer sentir livres e criativos e não obrigados a quinhentas convenções que fazem perder a graça toda.
Ou seja, virei ler sempre que quiseres partilhar os teus neurónios. :))

 
At 9:22 da manhã, Blogger Ness Xpress said...

Ah, Maria, só pelos teus comentários já vale a pena fazer o esforço de escrever os posts na mesa do restaurante, entre o pão com manteiga e o polvo assado (hummm, saudades daquele projecto em Barcelos...)

 
At 2:30 da tarde, Blogger inhazinha said...

Caro NessXpress
Venho aqui de vez em quando desde o historico e incontornavel post do varão da banheira. Sublime!
Só p dizer, no entanto, que partilho e compreendo a 100% a vontade de escrever, frustrada pelos inúmeros obstáculos que a vida real põe no caminho dessa necessidade - para mim quase vital...
Também eu tenho um "piqueno" espaço, meu só meu e muito meu. Porque gosto de escrever e porque preciso muitas vezes de um refúgio mental. Mas cada vez é mais difícil. No meu local de trabalho bloquearam o acesso ao blogger, a inumeros blogs, e a toda a espécie de comentários, mesmo em sites relacionados com área de negócios da empresa. Também a noite é para mim corolário de dias em que as palpebras descem sobre os olhos que pedem descanso....
Por isso cá estou eu á hora de almoço, de fugida, a ver mails, a postar um pouco e a escrever pequenas notas, já quase a fugir para o fora de prazo.
Espero que veja nestas breves linhas incentivo para continuar. :-)
Ah - e só mais uma coisa - tb me revi imenso no seu outro post, o da "ingenuidade". Também eu sou a que tenho actividade toda no final do dia... ;-)
Continue e fique bem.

 
At 2:47 da tarde, Blogger Ness Xpress said...

Micas, muito obrigado pelas suas generosas palavras. Constituem um forte incentivo, ao qual espero ser capaz de corresponder.

 

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