2007/02/21

A pergunta recorrente





Estou com sono. Estou com frio. Não é frio de vestir mais uma camisola, de preferência do tipo polartech, por muitas saudades do monte no Inverno que tragam. É frio daquele que nos tolhe os movimentos, que dá vontade de não fazer nada, ou melhor, que tira a vontade de fazer o que quer que seja, porque ter vontade de não fazer é, ao menos, uma vontade.

Dou-me mal com o frio. Ao contrário da maior parte das pessoas com quem tenho maior intimidade, não intimidade de contar segredos e compartilhar visões de trajos menores e isso, mas intimidade de compartilhar uma mesa de refeições ou a sala de trabalho, eu prefiro a chuva ao frio. Desde que não seja em tempo muito frio. Habitualmente, a temperatura exterior é superior, ou, o que dá no mesmo, embora não seja inteligível à primeira vista, menos inferior, quando chove. Além disso rega as plantas, poupando-me o trabalho e o consumo de água potável necessários para manter o relvado verde e a meia dúzia de árvores ou equiparados com bom aspecto. Gosto de lhes ver os rebentos na Primavera e do aroma das flores quando abrem.

Este ano, ou com maior exactidão, esta época fria que começa mais ou menos a meio do Outono e termina um pouco depois do início da Primavera, não me tinha “pegado” o frio. Foi coisa dos últimos dias, provavelmente em consequência de umas noitadas de trabalho, com várias horas surripiadas à cama. Felizmente não é muito habitual, já me passou a fobia do trabalhar muito para ter muitas coisas e parece que falhei a montanha russa de ser empurrado por esse comboio.

A verdade, verdadinha, é que não me apetece fazer a ponta de uma extremidade de bovino, sobretudo daqueles negros que teimam em estar plantados no topo das colinas junto às estradas espanholas, e que até dão muito jeito durante as intermináveis travessias do país vizinho, naquela altura em que já não se aguentam as músicas da Leopoldina e os passageiros do banco de trás dão mostras do avançar dos quilómetros: “Quem é que consegue descobrir ‘El toro’?”. Isso é os túneis, que também conseguem quebrar a monotonia, os protestos e a pergunta recorrente: “Ó pai, quantos quilómetros faltam?”.

E eis que, na tentativa de me imaginar o autor de uma dessas colunas obrigatórias de sucesso, ou não, num dos muitos órgãos de informação do país, obrigado a escrever porque faz parte do contrato, acabo por ter saudades da pergunta recorrente dos grandes anos de férias e consigo duplicar a já grande vontade de fechar a tasca e só cá voltar daqui por três semanitas.

3 Comments:

At 11:14 da manhã, Blogger robina said...

Tanto floreado para dizer corno :-)))))

Aguenta que é serviço!

 
At 12:17 da tarde, Blogger Ness Xpress said...

Continuamos, pois, na senda das persianas! E Sevilhanas! (Venha lá Agosto!)

 
At 10:40 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Este post é a personificação (se isso fosse possível) de nada querer fazer.
Lassidão, numa palavra.

Upa! Arriba!!

 

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