2007/02/01

A propósito do guarda-roupa

Em demorada e aturada visita ao guarda-roupa, e também ao armário do quinto andar, que não mencionou mas também não precisava, a Maria_Árvore brindou-nos com mais uma tão brilhante quanto sintética perspectiva do universo masculino. Disse universo? Foi da comoção da leitura, leiam, por favor, do núcleo atómico, constituído por um único protão e respectivo neutrão, talvez acompanhados por algumas outras partículas que, já li por aí, alguns brilhantes físicos têm descoberto no centro do que outrora se considerava como a mais pequena partícula que ainda mantinha as propriedades do elemento do qual fazia parte.

Diz, então, a bela Maria_Árvore, bela porque quem assim escreve só o pode ser, independentemente do que o espelho devolva ao seu globo ocular, acaba por só embater no denominador comum de gajos que querem conduzir as mulheres como na tradição das danças de salão. Ora ao ler esta frase magnífica tive dois pensamentos separados apenas por um ou dois minutos.

O mais célere foi que cada vez conheço mais homens que só querem ser conduzidos, e deixarei cair por terra uma imagem paralela de que talvez fosse o que já se passava nos ditos salões. Admito que, na sequência de uma condução pautada pela escolha repetida do caminho mais rápido e eficiente, a que se junta o tédio provocado pela ignorância da vontade nunca abertamente confessada de deixar de ser a condutora de serviço naquele veículo, adicionando a inércia própria do género conduzido e a estreiteza de vistas que o leva a pensar que todas aquelas que passam na rua é que o faziam feliz, como se tal dependesse de um estalar de dedos, alguns homens acabem por ceder a este último impulso, recomeçando novo ciclo de viagens, isto se não forem antes postos em casa de quem assim os educou.

Mas foi nesse momento que fiz a inevitável introspecção – e já estou a imaginar este pensamento aí em certas cabecinhas de raciocínios relampejantes: “Já pensaste no teu caso?” Vai daí que me recordei que tenho a convicta ilusão de que sou eu quem conduz. Pelo menos nos automóveis é assim, só passo o volante quando estou mesmo muito cansado, o que, até hoje, é raríssimo acontecer! Quanto ao resto, consigo lembrar-me de uma situação – ou terão sido duas? – em que disse “Hoje estás por minha conta!” e que até correu bem. Até me recordo daquela em que, a meio, ouvi, em tom uma oitava acima do normal, que corria sempre mal, mas no final até fiquei com a nítida sensação de que tinha gostado.

Em jeito de conclusão, acho que se nota que gosto de mecânica. Mas se tivesse nascido cem anos antes, gostava de ter sido construtor de automóveis.

4 Comments:

At 9:16 da tarde, Blogger Fausta Paixão said...

nota-se bem, mesmo muito bem que a ti só te apetece um volante na mão e um pedal debaixo do pé.
... no resto não sei, não vi, não digo nada; mas concordo com a afirmação que diz que cada vez mais são elas que guiam. só que às vezes também chateia andar sempre a puxar a carroça... donde se conclui que a mulher é muito complicada: não me digas nada que sei bem o que faço; pois!, bem podias ter dito qualquer coisa; sou sempre eu a decidir, não é?

mas... que estou eu a dizer? eu, que não compreendo os homens... a dizer isto das mulheres, que são as coisinhas mais singelas que os deuses puseram sobre a terra!!!

 
At 9:26 da manhã, Blogger Unknown said...

pois é Ness, ao menos na mecânica todas as peças estão é vista (ainda que, por vezes, sobrem algumas)... e (eu sei que tu sabes) o verdadeiro desafio não é só conduzir mas também saber quando e como...

beijo rubro

 
At 11:36 da manhã, Blogger Ness Xpress said...

"Só" não, Fausta! Devo ter já demonstrado que há outros mapas - que não se imprimem em papel mas só nos sentidos - de que também gosto, e muito!


Luna, parece que também gostas de mapas :-)

 
At 10:47 da tarde, Blogger Maria Arvore said...

Desculpa só chegar agora e logo para ficar rubra com tanto piropo.
E julgando entender a tua mecânica de cada vez mais homens ficarem nossa-senhora-não-te rales e faz de mim o que quiseres, isso é para mim uma manobra mais subtil mas com resultado semelhante à autoritária: em ambos os casos não é uma relação de responsabilidade partilhada em pé de igualdade.
Serei utópica... mas não quero um pai nem um filho para a canoa de quatro remos. ;)

 

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