2007/02/05

Sim, com certeza!

Dei por mim a criticar os movimentos do “Sim” pela falta de mobilização, pelo menos tendo em conta o que vejo na comunicação social e o receio de que, oito anos passados, continuemos na estaca zero e passemos mais não sei quantos anos a falar em novo referendo e a manter mais um dos tantos mecanismos que nos levam a discutir todas as questões acessórias em torno de um assunto, desviando-nos do que realmente interessa e que é, tão somente, o progresso na busca de uma sociedade justa.

Pensei então que eu próprio não estava a contribuir para o passo na direcção que considero correcta, por dar mais importância ao dia-a-dia e me escudar no desgastado relógio. Ora, como não estou disposto a procurar iniciativas do “Sim”, o melhor contributo que consigo dar, a par com alguns comentários em blogues que vou visitando, é deixar aqui a minha posição e justificá-la da melhor forma que o meu capilar literário me deixar fazê-lo.

Vou votar “Sim” por várias razões, dentre as quais destaco as seguintes:

- A esmagadora maioria das mulheres pratica a interrupção voluntária da gravidez consciente de que é a melhor opção para o seu futuro como mulher, sendo que o conceito de maternidade continuará bem vivo dentro de todas; as que já são mães defendem o futuro dos filhos que têm e as que ainda não o são terão de futuro melhores condições para criarem crianças bem formadas;
- Sou contra o país do “faz de conta”, onde as leis existem para que as pessoas saibam que podem ser punidas se prevaricarem, mas só se alguém fizer muito alarido ou aparecer um oficial de justiça fundamentalista; no limite, e para fazer de conta que o país é sério, a legislação aplica-se aos que não têm possibilidade de contratar um advogado influente, a quem se permite o recurso a um dos inúmeros mecanismos de contorno da lei.

Devem apoiar-se as mulheres que, corajosamente, decidem serem mães em condições precárias, evidentemente. Devem ser seguidas e aconselhadas as que apresentam maiores dificuldades, pelas mais variadas razões, em realizar o planeamento da sua família. Mas não concordo que se transforme um acto médico simples, quando realizado em condições, num acto criminoso. Não se aponta o dedo a uma mulher, ou a um homem, que recorre a métodos de interrupção da fertilidade. Não se criminalizam mulheres que, todos os meses, desperdiçam um óvulo, quantas vezes já fertilizado.

Só me irrita ouvir discursos inflamados em torno de questões enviesadas, com ligações mirabolantes ao tema em causa, à boa maneira portuguesa. E até não-questões, muitas delas a roçar a desonestidade, como a de vir pôr em causa, à boca do referendo, uma pergunta formulada há oito anos e recentemente aprovada por larga maioria na assembleia da república.

Eu voto “Sim”.

3 Comments:

At 10:25 da tarde, Blogger Pseudo said...

Como possivelmente sabes, eu também voto "SIM". Apenas evitei e evito apresentar as minhas razões em blogs. Estou cansada das discussões, dos argumentos de ambas as partes, de ler opiniões, umas mais bem fundamentadas do que outras. É um assunto demasiado íntimo, que diz respeito ao casal, e a meu ver, em última análise, à parceira.

Sou pela liberdade de escolha, e não pela realização do aborto.

 
At 12:18 da manhã, Blogger Docente said...

eu particularmente nao concordo ctg...mas como diz o povo e bem: cada cabeça sua sentença

penso que a lei actual ja é bastante permissiva..se virmos bem existem ate paises que nao deixam abortar mm se a mulher for vitima de violação...

uma coisa que me confunde nisto tudo é tb o papel do pai da criança...ja que o pai é totalmente marginalizado em todo estes contexto

a meu ver cada nova viva que se gera dentro da mulher é um ser unico e irrepetivel, algo que foi criado por duas pessoas....

penso que a mulher( e o homem tb) devem ser responsaveis e usar e todos anticoncepcionais se nao quiserem engravidar...nao devem usar o aborto como mais uma saida facil....

...pois a meu ver é isso que vai acontecer...vai tornar-se uma saida facil..mais um metodo anticoncepcional...tal como aconteceu com a pilula do dia seguinte


e se virmos bem nao estaremos a eliminar a causa desse grande problema que é a gravidez indesejada...continuaremos a nao apostar na formação e na educação para a saude...porque se opta por escolher o caminho mais facil

mas o que importa é votar e de cnsciencia tranquila

cumprimentos

 
At 10:03 da manhã, Blogger Ness Xpress said...

Olá, pseudo. Pela liberdade de escolha, sim.

Monge, em bom inglês, "shit happens". A escolha faz-se em função dos cenários reais e actuais. Estou profundamente convencido de que nenhuma mulher olha para o aborto como um método anti-concepcional.

 

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