2007/04/16

Os tais que turvam o horizonte

Fabuloso, o último vídeo de Pedro Abrunhosa. Ver o nosso Porto desta forma, com aqueles poemas a que ele nos habitouo, deixa-me a pairar sobre as nuvens, quase como se observasse a cidade do topo da Torre dos Clérigos.

Gosto do Pedro Abrunhosa escritor e compositor. Não gosto do Pedro Abrunhosa que fala para as câmaras, não gosto daquela forma de ser portuense. Não gosto da imagem que faz passar, do enredo à volta dos óculos escuros, da postura pretensamente orgulhosa de bairrista maltratado pela capital centralista. É essa uma das razões pela qual não sou portista, embora portuense de alma e coração. O Porto não precisa dos males da capital e saberá sempre destacar-se pelo rigor da educação que dispensa aos seus filhos, dando aos outros o que de melhor tem e recebendo deles os ensinamentos que contribuam para o bem comum - foi aqui que acordei do transe em que tinha mergulhado quando me atirei da Torre.

A imagem dos sem-abrigo é comovente. Durante os anos em que por eles passei, ainda a escola era bem no centro da cidade, esforçava-me por pensar que tinham tido a sua oportunidade e a tinham perdido. Com o tempo a razão foi-me chamando à realidade, nenhum deles foi capaz de evitar o que acabou por acontecer. A vida não é justa, há quem tenha a felicidade de nascer no seio de uma família educada, por humilde que seja, há quem tenha a fortuna de ter nascido com um dom especial, desde dar um chuto numa bola até conseguir emitir sons melodiosos que nos distraiam do trabalho monótono. Ter uma inteligência acima da média não se escolhe. Ser inteligente é perceber que podemos fazer alguma coisa pelos outros após assegurar as nossas necessidades básicas.

Não tenho nenhuma varinha de condão, com preguiçosa frequência me refugio na necessidade de garantir a melhor formação e as melhores condições de vida aos meus filhos, de forma a justificar a omissão do dever de prestar assistência a quem nada tem, nem mesmo a capacidade de fugir à pobreza. E ainda há a dificuldade em distinguir entre a incapacidade deles e o comodismo da generosidade dos outros. A verdade é que há muita gente que tem muito mais do que aquilo de que precisa e mais ainda do que aquilo que de é capaz de disfrutar. Repito-me, mas tenho tanto ou mais prazer em andar no monte de bicicleta do que aquele me dá o mesmo passeio com ar condicionado, música e muitos quilogramas de dióxido de carbono emitidos para a atmosfera.

Olho embevecidamente para o "Quem me leva os meus fantasmas". Sei que o sentimento passa com rapidez, também tenho a mania de que tenho uma vida muito ocupada. Talvez um dia possa, finalmente, olhar para o lado.

(Deixei o link. Está na moda colocar bídrios nos posts. Um dia destes vou deixar-me levar e provar a mim próprio que também sou capaz.)

6 Comments:

At 6:49 da tarde, Blogger psique said...

Sabes que desde menina que queria ter muito dinheiro para puder colocar todas as pessoas que moravam na rua numa quinta onde pudessem ser felizes... ainda não o consegui...

Concordo com a tua opinião sobre o Pedro

 
At 9:27 da manhã, Blogger Ness Xpress said...

Psique, tenho dúvidas que se sentissem felizes assim. Mas vale pela tentativa de minorar o problema :-)

 
At 10:13 da manhã, Blogger robina said...

Vou dizer-te que este é um grande post e que fizeste na perfeição o retrato do Pedro Abrunhosa.

 
At 10:27 da manhã, Blogger Ness Xpress said...

Obrigado, Robina. Deve ser de ter voltado a andar de bicicleta ;-)

 
At 4:51 da tarde, Anonymous Anónimo said...

já tinha viste o video e também o achei lindíssimo.

Não ponhas os videos, fica mais bonito assim.

 
At 9:51 da manhã, Blogger Ness Xpress said...

Também concordo, Marta. E vai sendo tempo de recusar-me desafios inúteis :-)

 

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