2007/04/02

Horizontes





E este gosto por horizontes a perder de vista e linhas de terra por entre a vegetação e o cinza granítico de peças encaixadas pelas gentes de antanho, para poderem aproximar as margens e atravessar em segurança para locais onde ganhavam a vida.

Voltei a subir o monte, que é como quem diz, a gente quer ver muitos montes e vales e rios em pouco tempo e depois em vez de subir com o ruído das solas “Vibram” no empedrado, lá acaba por ir embalado pela melodia dos êmbolos em combustão detonante, cada vez mais suave, e enrolado na recordação de dias mais compridos, com a carga às costas e o pensamento nos cavalos comprimidos. Estranho círculo este, o da nossa existência, quando temos tempo e pernas ansiamos pela máquina, quando temos a máquina suspiramos pelas pernas e pelos dias sem relógio.

Lá em cima a sensação, essa, é a mesma dos tempos das grandes descobertas: o mundo é grande e a vontade de o conquistar imensa e aquela visão esmagadora da terra sem fim continua a fazer-me sentir enorme e a dar-me a energia necessária para novo ciclo de rotinas até ao próximo monte.



O vazio, no entanto, olho-o agora de forma diferente. Nunca dele tive receio, é certo, nunca fiquei parado quando ninguém respondeu ao desafio, mas, com o passar dos anos, aprendi que há alturas em que é necessário andar mais devagar e ter a paciência para esperar que aqueles de quem gosto compreendam porque corro e, também, compreendam que podem gostar de ver o frio, superficial, daquelas pedras e caminhos, se para eles olharem de forma um pouco diferente. Assim como eu próprio passei a esforçar-me por caminhar mais depressa pelas estradas de que não gosto e a ver e descobrir o interesse de certos quadros aos quais nem sequer prestava atenção quando passava.

A minha procura, a minha inquietação, pode estar completamente perdida se um dia chegar à conclusão de que o que buscava não existe e que, entretanto, na louca correria, acabei por passar ao lado de muitos e belos cenários de que poderia disfrutar se me tivesse esforçado um pouco. Porque os diamantes estão escondidos na terra e só se descobrem se escavar o solo por cima deles.

7 Comments:

At 6:33 da tarde, Blogger psique said...

"Porque os diamantes estão escondidos na terra e só se descobrem se escavar o solo por cima deles. " Como é bem verdade...
obrigada

 
At 2:34 da tarde, Blogger absorbent said...

vinha so perguntar onde foram tiradas as fotos... mas ja agora fica aqui um aparte: hoje em dia, ja se fazem diamantes em fabricas. e nao, nao é so uma informacao cientifica... é tb uma nova maneira de ver as emocoes.

 
At 7:32 da tarde, Blogger Ness Xpress said...

Psique, só é necessário ser persistente :-)

Absorbent, foi de cima do castelo de Algoso. Toda aquela zona dá fotos magníficas. E creio que não é necessário ser-se um ourives muito experiente para distinguir carbono puro de zircónio ;-)

 
At 9:43 da manhã, Blogger robina said...

Só andas bem no laréu :-)))

 
At 1:15 da tarde, Blogger Fresquinha said...

Boa Páscoa, Ness. E nada de caçar coelhas !!! Estamos em tempo de recolhimento. Bom Natal também !

 
At 2:12 da tarde, Blogger Ness Xpress said...

Robina, eu não escolhi a data de nascimento... mas não a renego!

Fresquinha, há alguma coisa mais macia que o pelo de uma coelhinha? Bom Carnaval para ti também!

 
At 6:52 da tarde, Blogger absorbent said...

zirconio? nao, mesmo carbono.

http://www.wired.com/wired/archive/11.09/diamond.html

http://www.wisegeek.com/what-are-artificial-diamonds.htm

 

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