2008/01/30

Atracção monástica

A placa estava ali a tentar-me já há algum tempo. Já tinha ouvido falar no São Frutuoso, mas uma coisa é ter hora marcada para uma reunião e outra é andar a passear em turismo. Desta vez o meu interlocutor ligou a dizer que só chegaria meia-hora depois de mim – a verdade é que eu tinha ficado de lá ir durante a manhã mas só após o almoço consegui reunir todos os documentos necessários.

Cheguei à rotunda, olhei de novo para a placa e resolvi que era desta vez, afinal o monumento não seria demorado de ver. E na realidade não é, é mais demorada a visita ao templo mais recente do que à capela que, originalmente, é do século VII. A traça actual, mesmo assim, será do século XI, sendo este um dos templos mais antigos do país. O São Frutuoso de Montélios foi um alto clérigo do século VII, bispo, ao tempo, das dioceses de Dume e Braga, então pertencente à vasta área da Galiza.

Passou-se comigo, durante a curta visita, um fenómeno já conhecido anteriormente. O conjunto de edifícios faz parte de um antigo mosteiro franciscano, cujas paredes, as que ainda se encontram de pé, são visíveis para quem contorna a capela do lado exterior, na busca dos detalhes geralmente não referidos na informação disponível. Encontrei-me, pois, numa zona de maior privacidade e desenrolou-se o filme dos monges medievais nas suas tarefas diárias, enfim até admito alguma influência d’ “O nome da rosa” e quejandos. A verdade é que, não sendo católico, embora cristão por formação e convicção, senti-me invadido por uma enorme paz interior. Faz parte da atracção por locais isolados, onde possa estar comigo próprio, de preferência com montes e rios por perto. A referência é, sem dúvida, o mosteiro de Pitões das Júnias, esse bem inserido no paraíso do Gerês.

Evidentemente que a visão romanceada da vida monástica tal como n´”O nome da rosa” tem grande peso nesta atracção, a mocita, além daqueles olhos profundos e do corpinho sem mácula por baixo da túnica andrajosa, tem uma arte de sedução exemplar. No meio dos montes até é possível que a divina providência deixasse à disposição de um monge tal beleza natural, mas tenho que admitir que a probabilidade é quase a mesma de ver a Marisa Cruz anunciar as bolinhas e estrelinhas que assinalamos no boletim – no meu caso então seria uma impossibilidade técnica (as bolinhas e estrelinhas).

Porque sim, imagino-me um monge medieval peregrino de Compostela e mais além, que Roma atrai pelo passeio e não pelo senhor que acena do alto da varanda distante.