2008/06/20

Pé leve

O aumento do preço do gasóleo, mais do que limitar-me as deslocações, fez-me reflectir nas acções a tomar. Fiz uma revisão da matéria e cheguei à conclusão de que já há à venda motociclos com autonomia suficiente para as minhas reduzidas deslocações diárias alheias ao trabalho, embora incluindo o trajecto de casa para o local. Isto é, é possível percorrer cerca de 30 km com uma carga de bateria e próximo da velocidade máxima permitida dentro das localidades. Mas como esses veículos não permitem ou, no mínimo, não são aconselháveis para o transporte de crianças, terei que os deixar nos pontos de venda por mais algum tempo.

Sendo assim, passei a outra fase. Depois do deslumbramento pelas possibilidades acrescidas do último veículo a chegar a casa, a saber, aumento de 40% na potência e de 100% no binário relativamente ao que veio substituir, passei à exploração de outra possibilidade, esta paradoxal, a da redução do consumo. Então, em vez das fulgurantes demonstrações de acelerações intermédias, aquelas que começam em andamento e se destinam a ultrapassar ou a entrar no furo da fila, passei a conduzir à velocidade dos outros e a desenvolver o jogo interessante de fazer tudo para não travar. Como qualquer encontro imediato da frente do veículo terá como consequência o preenchimento de um cheque com muitos algarismos, que isto dos faróis modernos é a doer, está bom de ver que a alternativa é andar mesmo muito devagar e dar espaço acrescido ao veículo da frente. Mas o resultado tem sido animador, com uma média de consumo inferior em cerca de um litro por cem quilómetros. Dada a reduzida distância percorrida, o acréscimo de tempo na viagem nem se nota.

Evidentemente que esta forma de conduzir é influenciada pela disposição com que me sento ao volante, bastante mais serena à medida dos cabelos brancos. E não se nota apenas na condução.

2008/06/17

À buzinadela!

Somos um país de gajos - de ambos os sexos, evidentemente - tesos! A gasolina e o gasóleo aumentam mais de 25% em alguns meses mas nós não nos calamos, nem pensem! Buzinamos! Até que a OPEP ou os especuladores anónimos ou o governo ou o aquecimento global ou até mesmo o Grande Arquitecto – que afinal parece ser cada vez mais um Engenheiro Informático de matrizes e afins – nos ouçam! Eu acho bem, afinal a buzina não consome combustível e produz um tipo de poluição muito menos anti-ecológica do que a emissão de dióxido de carbono. Apropriando-me despudoradamente da frase publicitária, portugueses com mãos nas buzinas não são portugueses ranzinas!


Podíamos passar os domingos sem ligar a ignição, excepção feita a quem tem que trabalhar. Passeavamos de bicicleta, ou a pé. Ou íamos à Póvoa de metro, até não deixava de ser um passeio agradável. Mas isso era um esforço monumental, antes ir a Fátima a pé se o Benfica for campeão. E quem dispensa o café à beira-mar depois do almoço? Buzinemos, pois, que a perturbação das ondas sonoras junto dos reactores de produção da gasolina vai, com toda a certeza, provocar enormes prejuízos às refinarias.

2008/06/16

Um sorriso entre a multidão

- Perguntaste à Isabel pela amiga que ilumina com o sorriso um estádio de futebol em noite de lua nova?

- A Isabel é uma querida.

- Dizes isso a todas.

- Até podia ser, mas eu não gosto de mentir e tenho imaginação suficiente para encontrar nas mulheres de quem gosto os detalhes que me permitam dizer-lhes coisas bonitas sem ter que faltar à verdade.

- Nunca viste o meu sorriso...

- Se o sorriso com que me contemplaste em pouco mais que uma troca de olhares num centro comercial não é o teu sorriso, então terei que imaginar a trovoada numa noite de tempestade em frente ao mar.

- Contentas-te com a imaginação?

- Não ilumines mais o telemóvel que ele é capaz de derreter.

- Ainda bem que não tenho GPRS.

- Então aceitas o meu convite para jantar?

- Em que língua é que tu falas?

2008/06/05

Bola, para refrescar!

Mais uma vez o país se mostra em grande forma. A mentalidade “Tragam a taça” reina em todo o esplendor! Com uma mais-valia importante: os portugueses residentes na Suíça contribuem com todo o fulgor habitual de quem tem necessidade de afirmação em terra alheia. Eu sei que mais valia estar calado, mas é superior às minhas forças, não consigo, tenho que deixar escapar o que tenho dito alto e bom som. Imaginemos que aquela recepção com motas e tudo tenha sido a de uma das comunidades estrangeiras cá radicadas, por exemplo, no último campeonato europeu. O que diríamos nós, enquanto país organizador do evento? Acho, sinceramente, que as autoridades suíças e o seu povo têm sido muito condescendentes. Eu não consigo ver estas manifestações sem me alhear do ambiente que as rodeia.

Quanto à parte desportiva em si, não tenho dúvidas nenhumas. Se já levamos os jogadores ao senhor Presidente da República, se somos favoritos e se temos o melhor jogador do mundo, embora eu continue com a ideia de que o último legitimamente eleito seja dos que falam português mas jogam noutra selecção nacional, temos todos os ingredientes para repetir os êxitos estrondosos de 1986 e 2002, embora em competição de diferente abrangência. E creio mesmo que Alá joga melhor à bola, como em tempos se provou.

Para compor o ramalhete falta falar de culinária. Cozido à portuguesa e tripas à moda do Porto não convencem quem é objectivo, por mais que se exalte a gastronomia nacional. Parece que continuamos a não comer no estrangeiro, para perceber as diferenças. Eu é que não percebo onde começou a trapalhada. Se no iluminado que pensou que algum dia apanharia judicialmente os donos da bola lusa, isto para não querer crer que foi tudo propositado para tentar tapar o sol com mais uma peneira, se naqueles que dão a cara pela dita transparência do mundo da bola e que inventaram umas multas e a perda de uns pontos que não faziam falta para dizer que ficava tudo sanado e a partir de agora é tudo cristalino como o carbono lapidado, se nos cultivadores dos grupos de bons rapazes que nem valia a pena perder tempo com recursos porque acabámos por ganhar na mesma. Felizmente, altas influência à parte porque negócios há em todo o lado, há quem seja mais quadrado do que nós e tenha um pensamento linear, que tanta falta continua a fazer-nos. Porque quem cala, consente. Logo qual a surpresa da decisão?

Nota final, que também tenho direito a ela nesta minha vasta audiência: o preço do barril de petróleo baixou cerca de 9%. Alguém encontrou combustíveis mais baratos?