2007/04/26

A minha vez no serviço público

Há dois ou três dias, numa casa aqui perto, lancei uma bojarda que me parece ter feito sucesso. Além disso, agradou às meninas. Como eu gosto de agradar às meninas, achei que tinha a obrigação de me re-candida..., ups, já me ia empolgando no discurso do presidente insubstituível, ora a obrigação era a de compartilhar os agrados com as meninas que têm o bom gosto de me mimar, poucas mas todas muito boas.

Só vou deixando o aviso de que falarei de mecânica de fluidos e de química dos sentidos (aquele boas referia-se a amigas, pois está claro!).

Ora o meu comentário mais explosivo, e cá está a química em acção, foi que é possível a um homem ter uma ejaculação, agora é que chega a mecânica dos fluidos, sem ter um orgasmo, e aqui é química de novo. Antes disto, que eu sou um mocinho que gosta de preliminares e estes convém que comecem lentamente, tinha dito que, com o passar dos anos, a ejaculação e o orgasmo não são necessariamente sinónimos.

E como já ouvi vários ein? de espanto desse lado do vazio, eu ia escrever éter mas essa paga direitos de autor não sei a quem e pretende designar uma forma de comunicação bem mais antiga, vou passar a explicar a minha afirmação, sabendo que é agora que ganho uma pipa de pontos.

Em termos puramente físicos, uma ejaculação está associada a uma sensação de agradável prazer. Acontece que o sexo é, do ponto de vista físico, muito limitado. Logo, rapidamente o interesse da coisa passa pela exploração daquilo que nos vai na cabecinha. E é aqui que entra o jogo a dois, porque a nossa tola conhecemos nós bem e, mesmo que em algumas ocasiões nos proporcione agradáveis momentos de prazer, a partir do momento em que nos habituamos a tentar tomar outras de assalto passamos para outro nível e o retrocesso tende a saber a pouco.

Mas voltemos à química pura, o objectivo do jogo entre um homem e uma mulher, do meu ponto de vista, é que a mulher suba ao cimo do monte. Ora conseguir este feito é algo que me deixa em tal estado de alegria que me faz desejar e apreciar condignamente a ejaculação. Aí, sim, considero ter chegado ao orgasmo, porque na minha cabecinha algo se libertou e me levou para lá do espaço físico em que me encontrava confinado. Quando isto não acontece, quando por uma, ou várias, das múltiplas razões que podem afastar a mente feminina do estado transcendental de um encontro amoroso, a minha parceira não atinge o orgasmo, eu encaro o facto como uma derrota pessoal, mesmo que seja por não ter sabido esperar por um dia mais perfeito ou por não ter conseguido afastar o fantasma que na altura se passeava à nossa volta. Nestas alturas aquilo a que cheguei, por uma inigualável manifestação de amor e ternura da minha parceira, foi a uma ejaculação, que me deixa a sensação de que mais valia estar a aproveitar para recuperar algum tempo de sono.

Só para terminar, que este texto já vai longo, há fases intermédias em que reconheço que a minha parceira sentiu prazer e demonstrou empenho, mas não chegou lá acima. Nessas alturas fica só um ligeiro amargo de boca. Mas não foi um verdadeiro orgasmo.

2007/04/19

“Não me fulmine com o olhar!”

A bem dizer, doía-me. Primeiro ela coloca uma almofada de líquido anti-congelante (“gelo”) no cotovelo durante 20 minutos. Depois agarra-me no braço e começa a forçar a fechar e a abrir, assim, a frio. Mas, que diabo, aquilo era uma sala cheia de gente e um homem não diz “ai”. Pensando bem, no dia anterior eu tinha mesmo dito “ai”. Vai daí, ela, com aqueles olhos verdes com pintinhas castanhas, que ficam muito verdes e com as pintinhas castanhas muito castanhas nestes dias de sol luminoso, disse: “Ainda agora comecei e já está a dizer ai?”

Então, no dia seguinte, não abri a boca. Isto é, ela já me tinha perguntado qual era o meu passatempo favorito. E isso é pergunta potencialmente fatal. Já tinha começado a verter sol, estrada, montes e vales e acredito que os meus olhos cor de mel, que passam a azeitona quando o sol está muito brilhante – e não são, naturalmente, palavras minhas – os meus olhos, dizia, já se estariam a espraiar nas margens daqueles lagos verdes de águas calmas, que começava a imaginar revoltosas se agitadas por tempestade inesperada.

Ou então é apenas esta mente tortuosa, que teima em ver nas palavras segundos sentidos que nunca tiveram.

2007/04/16

Os tais que turvam o horizonte

Fabuloso, o último vídeo de Pedro Abrunhosa. Ver o nosso Porto desta forma, com aqueles poemas a que ele nos habitouo, deixa-me a pairar sobre as nuvens, quase como se observasse a cidade do topo da Torre dos Clérigos.

Gosto do Pedro Abrunhosa escritor e compositor. Não gosto do Pedro Abrunhosa que fala para as câmaras, não gosto daquela forma de ser portuense. Não gosto da imagem que faz passar, do enredo à volta dos óculos escuros, da postura pretensamente orgulhosa de bairrista maltratado pela capital centralista. É essa uma das razões pela qual não sou portista, embora portuense de alma e coração. O Porto não precisa dos males da capital e saberá sempre destacar-se pelo rigor da educação que dispensa aos seus filhos, dando aos outros o que de melhor tem e recebendo deles os ensinamentos que contribuam para o bem comum - foi aqui que acordei do transe em que tinha mergulhado quando me atirei da Torre.

A imagem dos sem-abrigo é comovente. Durante os anos em que por eles passei, ainda a escola era bem no centro da cidade, esforçava-me por pensar que tinham tido a sua oportunidade e a tinham perdido. Com o tempo a razão foi-me chamando à realidade, nenhum deles foi capaz de evitar o que acabou por acontecer. A vida não é justa, há quem tenha a felicidade de nascer no seio de uma família educada, por humilde que seja, há quem tenha a fortuna de ter nascido com um dom especial, desde dar um chuto numa bola até conseguir emitir sons melodiosos que nos distraiam do trabalho monótono. Ter uma inteligência acima da média não se escolhe. Ser inteligente é perceber que podemos fazer alguma coisa pelos outros após assegurar as nossas necessidades básicas.

Não tenho nenhuma varinha de condão, com preguiçosa frequência me refugio na necessidade de garantir a melhor formação e as melhores condições de vida aos meus filhos, de forma a justificar a omissão do dever de prestar assistência a quem nada tem, nem mesmo a capacidade de fugir à pobreza. E ainda há a dificuldade em distinguir entre a incapacidade deles e o comodismo da generosidade dos outros. A verdade é que há muita gente que tem muito mais do que aquilo de que precisa e mais ainda do que aquilo que de é capaz de disfrutar. Repito-me, mas tenho tanto ou mais prazer em andar no monte de bicicleta do que aquele me dá o mesmo passeio com ar condicionado, música e muitos quilogramas de dióxido de carbono emitidos para a atmosfera.

Olho embevecidamente para o "Quem me leva os meus fantasmas". Sei que o sentimento passa com rapidez, também tenho a mania de que tenho uma vida muito ocupada. Talvez um dia possa, finalmente, olhar para o lado.

(Deixei o link. Está na moda colocar bídrios nos posts. Um dia destes vou deixar-me levar e provar a mim próprio que também sou capaz.)

2007/04/11

Publicidade

Agonizava. Contorcia-se com dores, não conseguia estar deitado, levantava-se, a cabeça começava em rodopios. Já não se sentia assim desde aquela noite em que começou na cerveja e acabou no conhaque. Quantos anos tinham passado? Queria lá saber, só pensava que, dessa vez, ainda tinha sentido o efeito tão breve quanto alucinante do álcool, a meia janela da 4 L fiel companheira totalmente aberta, a aspirar o ar fresco da madrugada. Ai se a brigada estivesse por perto... Agora nem uma gotinha de etileno tinha cheirado, como era possível encontrar-se neste estado!

Até queria ir à farmácia, mas a única forma de descer a escadaria seria de gatas, posição pouco digna para quem se gaba de nadar mais de 1000 metros em 45 minutos, apesar de os putos “teen” nadarem o dobro. Lembra-se bem, agora, de ter gozado com o homenzinho da fila do teatro que tem de a abandonar por motivo inadiável. O raio do spot passa sempre à hora das refeições, sendo a palavra-chave que promove o medicamento repetida até à exaustão entre uma batata frita e o naco de bife com a gema por cima, arruinando o momento preciso em que os dez segundos de prazer do líquido sobre a carne se fazem sentir. Nesta altura, depois de já ter provado a famosa teoria alentejano de que há algo mais rápido que a luz, ou seja, antes de ligar o interruptor já nada havia a fazer, daria tudo, mesmo tudo, até porque naquele estado ninguém o quereria, para ter o famoso comprimido.

No fundo, ninguém o manda gostar de ver a publicidade na televisão. E ninguém o manda ser cientista, para provar antes de poder criticar. Já há muito conhecia a história do inventor do LSD, que quis provar saber voar depois de comprovar a validade da descoberta. Que gostasse de sardinhas assadas, até é meritório, além de ser um alimento saudável ainda é pescado por nacionais, nem que seja em barcos dos vizinhos. E fazer a brasa até tem piada, excepto o cheiro a fumo, mas isso remedeia-se e até pode ser um bom pretexto para ter companhia no duche. Agora juntar à bela sardinha o néctar imperial que tornou a barriga do São Nicolau naquilo que ela é, é que só podia dar este resultado!

2007/04/02

Horizontes





E este gosto por horizontes a perder de vista e linhas de terra por entre a vegetação e o cinza granítico de peças encaixadas pelas gentes de antanho, para poderem aproximar as margens e atravessar em segurança para locais onde ganhavam a vida.

Voltei a subir o monte, que é como quem diz, a gente quer ver muitos montes e vales e rios em pouco tempo e depois em vez de subir com o ruído das solas “Vibram” no empedrado, lá acaba por ir embalado pela melodia dos êmbolos em combustão detonante, cada vez mais suave, e enrolado na recordação de dias mais compridos, com a carga às costas e o pensamento nos cavalos comprimidos. Estranho círculo este, o da nossa existência, quando temos tempo e pernas ansiamos pela máquina, quando temos a máquina suspiramos pelas pernas e pelos dias sem relógio.

Lá em cima a sensação, essa, é a mesma dos tempos das grandes descobertas: o mundo é grande e a vontade de o conquistar imensa e aquela visão esmagadora da terra sem fim continua a fazer-me sentir enorme e a dar-me a energia necessária para novo ciclo de rotinas até ao próximo monte.



O vazio, no entanto, olho-o agora de forma diferente. Nunca dele tive receio, é certo, nunca fiquei parado quando ninguém respondeu ao desafio, mas, com o passar dos anos, aprendi que há alturas em que é necessário andar mais devagar e ter a paciência para esperar que aqueles de quem gosto compreendam porque corro e, também, compreendam que podem gostar de ver o frio, superficial, daquelas pedras e caminhos, se para eles olharem de forma um pouco diferente. Assim como eu próprio passei a esforçar-me por caminhar mais depressa pelas estradas de que não gosto e a ver e descobrir o interesse de certos quadros aos quais nem sequer prestava atenção quando passava.

A minha procura, a minha inquietação, pode estar completamente perdida se um dia chegar à conclusão de que o que buscava não existe e que, entretanto, na louca correria, acabei por passar ao lado de muitos e belos cenários de que poderia disfrutar se me tivesse esforçado um pouco. Porque os diamantes estão escondidos na terra e só se descobrem se escavar o solo por cima deles.