2005/09/15

(In)Fidelidades (II)

Pedro e Inês tocaram à porta da casa de João e Ana. Vinham visivelmente bem dispostos e traziam duas garrafas de um bom vinho alentejano e uma daquelas mousses de chocolate especiais que Inês tão bem sabia fazer, com tabletes de chocolate, com a qual os homens se empanturravam ao mesmo tempo que completavam o volume das taças com whisky de 20 anos, zelosamente guardado para a ocasião.

Conheciam-se já há vários anos, desde os tempos da faculdade, em que se trocavam parceiros de experiências sexuais com o interesse e a dedicação de um cientista no laboratório.

A mesa já se encontrava posta, pelo que se iniciou o jantar entre as conversas de actualização das novidades nos mundos de cada casal. Durante a refeição Pedro trocava olhares lascivos com Ana, enquanto João e Inês se entregavam a jogos de palavras de crescente intensidade erótica, entre piscares de olhos entre as mulheres e piadas mais descaradas dos homens.

Quando João pousou a bandeja dos cafés na mesa, já no fim da refeição, aproximou-se de Inês, tocando as costas da cadeira em que esta se encontrava sentada. Colocou-lhe as mãos sobre os ombros, por trás, e aproximou o nariz do pescoço dela, sem a tocar. O contacto da cara dele com os cabelos dela acelerou-lhe o ritmo da rapariga. Ele aspirou lentamente o aroma que emanava do corpo dela e segredou-lhe ao ouvido: “Estás cada dia mais irresistível”, ao mesmo tempo que descia as mão ao longo das costelas, lentamente, observando o tecido que se erguia suavemente na curva dos seios.

Ao mesmo tempo, apenas alguns metros ao lado, Ana sentara-se ao colo de Pedro e deixava pender de entre os dentes uma tira comprida de manga, enquanto lhe rodeava o pescoço com os braços. Ele segurou a outra ponta da fruta, entendendo rapidamente o propósito da amiga, e começou a encurtá-la lentamente, até que os seus lábios se tocaram, suavemente, frescos e açucarados. Nessa altura já as mão dele seguravam a parte inferior dos seios dela, à espera do sinal da rapariga para tomarem de assalto os mamilos em erupção.

Foram-se despindo sem pressas, dois a dois, enquanto se encaminhavam para cada um dos quartos da casa, onde se amaram sem reservas mentais pela presença de estranhos.

A certa altura, quando ambos os espaços se encontravam silenciosos, João entrou no quarto onde a sua mulher se encontrava e, num gesto já largamente conhecido, trocou de lugar com Pedro. Fodeu furiosamente com Ana, que lhe gritava incessantemente: “Tu é que sabes como é, mostra-me, mata-me de prazer, dá-me, dá-me”, terminando a sessão num orgasmo descontrolado, ampliado pela adrenalina da posse mental.

Já no final da noite, de novo os quatro sentados na sala a tomar novo café, Pedro estava a falar: “Sabem que eu li ontem que há apenas 200 anos atrás, em pleno século XXI, o simples facto de um dos parceiros de um casal foder com outra pessoa, nem que fosse um amigo da casa, era motivo de divórcio? O único tipo de relação sexual aceite era entre os membros do casal. Bem, isto nos países de inspiração cristã, que era a religião dominante nos países mais desenvolvidos. Mas nos outros a mulher não podia foder com outro que não fosse o seu protector.”

“Quer dizer”, acrescentou Ana, “não tinham a noção de que o sexo é mais um motivo de reunião de amigos e uma forma privilegiada de relacionamento?”.

“É verdade”, responde Pedro, “ o que levou a que a troca de parceiros passasse a ser cada vez frequente, conduzindo a complicados processos de partilha de filhos e divisão de objectos que durante algum tempo se reuniam em conjunto.”

“Gente estranha, os pais dos nossos avós...”

2005/09/07

Frases

Há textos inteiros cheios de mensagens explícitas que se lêem sem que uma única palavra desperte a atenção. Outros há em que somente uma frase, aparentemente perdida no meio de tantas palavras, seja captada como a chave da escrita.

Há mistérios que não conseguimos explicar. Porque não ouvimos quem grita mas conseguimos escutar quem sussurra. Porque é que o que pensamos ser a nossa imaginação continua a fazer sentido prova após prova.

Enquanto houver velas desfraldadas no horizonte faz sentido que o vento continue a soprar.