2007/02/28

Viva a língua portuguesa!

Recebi por correio electrónico a preciosidade abaixo. Nunca a vi por outros blogues, embora me pareça tema que dá pano para mangas, bolsos e várias dobras nas calças, daquelas muito na moda. Então cá vai:

Linguagem do norte.

Circular Interna (verídica) de uma multinacional americana em
Portugal (no Porto), contra a linguagem dos trabalhadores do Norte.


"It has been brought to our attention by several officials visiting
our corporate Headquarters that offensive language is commonly used
by our Portuguese-speaking staff. Such behavior, in addition to
violating our Policy, is highly unprofessional and offensive to
both visitors and colleagues. In order to avoid such situations
please note that all Staff is kindly requested to IMMEDIATELY
adhere to the following rules:

1) Words like merda, caralho, foda-se, porra or puta-que-o-pariu
and other such expressions will not be used for emphasis, no matter
how heated the discussion.

2) You will not say cagada when someone makes a mistake, or
ganda-merda if you see somebody either being reprimanded or making
a mistake, or que-grande-cagada when a major mistake has been made.
All forms derivate from the verb cagar are inappropriate in our
environment.

3) No project manager, section head, or executive, under no
circumstances, will be referred to as filho-da-puta, cabrão,
ó-grande-come-merda, or vaca-gorda-da-puta-que-a-pariu.

4) Lack of determination will not be referred to as
falta-de-colhões or coisa-de-maricas and neither will persons who
lack initiative as picha-mole, corno, or mariconso.

5) Unusual or creative ideas from your superiors are not to be
referred to as punheta-mental.

6) Do not say esse-cabrão-enche-a-porra-do-juízo if a person is
persistent. When a task is heavy to achieve remember that you must
not say é uma-foda. In a similar way, do not use
esse-gajo-está-fodido if colleague is going through a difficult
situation. Furthermore, you must not say que-putedo when matters
become complicated.

7) When asking someone to leave you alone, you must not say
vai-à-merda. Do not ever substitute "May I help you" with
que-porra-é-que-tu-queres?? When things get tough, an acceptable
statement such as "we are going through a difficult time" should be
used, rather than isto-está-tudo-fodido.

8) No salary increase shall ever be referred to as
aumento-dum-cabrão.

9) Last but not least after reading this memo please do not say
mete-o-no-cu. Just keep it clean and dispose of it properly. We
hope you will keep these directions in mind.


Algumas considerações sobre o assunto, dentre as muitas que se podem discorrer (correr):

1. Não me parece linguagem do Norte, cabrão é um palavrão que mete respeito e dá direito a tiros de caçadeira, dir-se-ia antes "filha-da-puta-de-aumento";

2. O gajo que escreveu isto é com certeza um coninhas de um português armado em lambe-botas, e já estou a ser generoso, do chefe ou da chefa americano/a, e neste último caso não parece que a língua chegue mesmo mais acima;

3. Coitado do section head que não diga caralhadas; a bem dizer, ou os filmes americanos, já de si contidos, são uma farsa completa, ou até o presidente manda caralhadas a torto e a direito; aliás, recordo-me agora de um que tinha uma subordinada muito empenhada na arte de bem polir as botas; como bem sabemos, a bota é redonda e a bota de Berlim é bem boa;

4. Concordo que "punheta-mental" é uma expressão a evitar; há que elevar o nível; além de que não é directamente aplicável a chefas, para estas seria algo como "dedeta-mental"; não sendo especialista em inglês, proporia o uso de uma expressão muito mais erudita e equalitária: "mind orgasm"!

5. Esqueceram-se da rainha das expressões, a tal que classifica sem sombra para dúvidas todas aquelas situações em que o chefe nos obriga a trabalhar à noite e ao fim-de-semana para terminar um trabalho extremamente urgente que, depois de entregue, acaba por ficar na gaveta: "foda-mal-dada"!

2007/02/27

Brincadeiras no Bosque


A propósito do 3º aniversário do Bosque, a Robina lançou mais um desafio suportado naquelas fotos às quais só ela sabe reconhecer um enorme potencial de escrita. Sendo assim, cá vai uma brincadeira no Bosque.



Brincadeiras no bosque


Tinha-lhe dito que era perigoso. Ela sabia o quanto ele gostava de passear pelo bosque, a pé, em duas rodas ou mesmo mais, muito embora esta opção contrariasse o espírito ecológico da jornada. Por essa razão davam juntos e de mão dada longos passeios pedestres por entre as frondosas árvores, quantas vezes se ocultando atrás de densos arbustos para melhor contemplar tudo o que de bom a natureza oferece, quer um fresco cogumelo, quer um escaldante pepino, aquecido por um raio de sol emergindo da folhagem.

Mas tinha aquela mania da velocidade, montando furiosamente o veículo não poluente de passageiro único, máquina com a qual ela convivia mal, pois as mulheres não gostam da partilha do prazer, nem que seja com engenhos frios e mudos.

Preparou-lhe então uma surpresa, consciente que era do efeito inebriante que o inesperado, o bom inesperado, operava nele. Estudou o percurso, encontrou o local perfeito e deixou-se ficar à sua espera, preparando a bela roupagem para o momento. Desconhecedora das armadilhas do bosque, não deu conta da lage polida à sua frente. Ouviu um ramo partir-se sob as rodas, no caminho acima de si, e chegou-se à frente. Quando o viu deixou cair o vestido, num gesto rápido e belo. Ele olhou aquela maravilhosa nudez, perdendo num ápice a noção da condução, apertou com força os travões hidráulicos no fatídico momento em que a roda da frente entrava na lage xistosa, coberta por uma fina película de musgo invisível, tão deslizante quanto gelo. A bicicleta inclinou-se vertiginosamente sobre a direita, ele saiu inevitavelmente para a esquerda e ainda olhava para os seus magníficos seios quando a mão esquerda atingiu o solo, de braço esticado e sentiu o estalido denunciador da falta de atenção e da punição pelo pecado.

Tão envergonhada quanto aflita, precipitou-se para ele compondo, como podia, as vestes caídas.

“Querida, durante o próximo mês só poderei escrever com a mão direita”.

2007/02/21

A pergunta recorrente





Estou com sono. Estou com frio. Não é frio de vestir mais uma camisola, de preferência do tipo polartech, por muitas saudades do monte no Inverno que tragam. É frio daquele que nos tolhe os movimentos, que dá vontade de não fazer nada, ou melhor, que tira a vontade de fazer o que quer que seja, porque ter vontade de não fazer é, ao menos, uma vontade.

Dou-me mal com o frio. Ao contrário da maior parte das pessoas com quem tenho maior intimidade, não intimidade de contar segredos e compartilhar visões de trajos menores e isso, mas intimidade de compartilhar uma mesa de refeições ou a sala de trabalho, eu prefiro a chuva ao frio. Desde que não seja em tempo muito frio. Habitualmente, a temperatura exterior é superior, ou, o que dá no mesmo, embora não seja inteligível à primeira vista, menos inferior, quando chove. Além disso rega as plantas, poupando-me o trabalho e o consumo de água potável necessários para manter o relvado verde e a meia dúzia de árvores ou equiparados com bom aspecto. Gosto de lhes ver os rebentos na Primavera e do aroma das flores quando abrem.

Este ano, ou com maior exactidão, esta época fria que começa mais ou menos a meio do Outono e termina um pouco depois do início da Primavera, não me tinha “pegado” o frio. Foi coisa dos últimos dias, provavelmente em consequência de umas noitadas de trabalho, com várias horas surripiadas à cama. Felizmente não é muito habitual, já me passou a fobia do trabalhar muito para ter muitas coisas e parece que falhei a montanha russa de ser empurrado por esse comboio.

A verdade, verdadinha, é que não me apetece fazer a ponta de uma extremidade de bovino, sobretudo daqueles negros que teimam em estar plantados no topo das colinas junto às estradas espanholas, e que até dão muito jeito durante as intermináveis travessias do país vizinho, naquela altura em que já não se aguentam as músicas da Leopoldina e os passageiros do banco de trás dão mostras do avançar dos quilómetros: “Quem é que consegue descobrir ‘El toro’?”. Isso é os túneis, que também conseguem quebrar a monotonia, os protestos e a pergunta recorrente: “Ó pai, quantos quilómetros faltam?”.

E eis que, na tentativa de me imaginar o autor de uma dessas colunas obrigatórias de sucesso, ou não, num dos muitos órgãos de informação do país, obrigado a escrever porque faz parte do contrato, acabo por ter saudades da pergunta recorrente dos grandes anos de férias e consigo duplicar a já grande vontade de fechar a tasca e só cá voltar daqui por três semanitas.

2007/02/16

Belo Carnaval



Foi traído pelo tilintar metálico dos apetrechos transportados dentro do saco, quando este bateu na esquina da cama enquanto tentava, sorrateiramente, entrar no quarto sem fazer barulho. Ela abriu a porta da casa-de-banho e sorriu para ele, como se o tivesse apanhado a fazer uma travessura, enquanto tentava o impossível: adivinhar o que teria congeminado para a noite. Olhou para ela e lembrou-lhe as regras do jogo: “Eu não entro aí, faz favor de fechar a porta e me deixar a sós!”.

Abriu o fecho e começou a retirar a ferramenta. Uma lamparina, o recipiente circular com os garfos, o prato metálico, o líquido inflamável, os fósforos, um frappé, a mala térmica porta-gelo. Encheu o frappé com o gelo, colocou a pequena garrafa de espumante a refrescar e cobriu o gelo à vista com os morangos. Fez iluminar a lamparina, partiu a tablete de chocolate em pequenos pedaços e colocou-os dentro do recipiente, agora aquecido pela chama. Despiu-se, deixando apenas os slips negros.

A porta da casa-de-banho entreabriu-se: “Cheira-me a... não acredito!” Entrou no quarto, deslumbrante, com o robe negro transparente sobre o négligé azul, mesmo a tempo de o ver soltar as folhas verdes de menta sobre a pasta castanha fumegante. Ele foi buscar um morango ao frappé e segurou-o entre os dentes, à espera da reacção. Ela sentou-se sobre o seu colo, inspirou fundo e procurou-lhe os lábios guarnecidos. Ele desviou-os, agarrou-lhe suavemente nos cabelos negros, puxando-lhe a cabeça para trás, e percorreu-lhe o pescoço com a ponta do fruto fresco, sentindo-a estremecer no braço que lhe rodeava a cintura.

Tirou-lhe o robe e deitou-a na cama. Mergulhou um novo morango no chocolate, retirou-o e soprou para que a temperatura baixasse, deixando cair duas gotas mornas, uma na base de cada seio. Segurou o morango nos dentes e deu-lho a provar, numa luta vigorosa de fruta, chocolate e saliva. Foi recolher as gotas caídas, enquanto puxava suavemente o négligé para baixo, até ao fundo do redondo sensual da barriga. Voltou ao frappé, recolheu novo morango gelado, deixou cair as gotas desde os seios, fez uma pausa, sorriu e depositou-lhe o morango na taça do umbigo.


Foto gamada daqui

2007/02/14

O furador


A sempre bem-disposta Robina lançou um desafio à conta de umas fotos que tem publicado. Aproveitando um facto engraçado durante o fim-de-semana passada, onde uma nortada imprevista varreu os lampiões para fora da competição futebolística mais democrática do campeonato, escrevi um texto fora do conteúdo habitual deste espaço (podem lê-lo ).


Mas como há temas a que não me furto sem uma razão muito forte, lá escrevi umas linhas para agradar a todos os corações, incluindo os arrefecidos pela brisa fresca acima referida.


Segue a seguir.








O furador


E lá vinha mais uma comemoração pessoal imposta pelo calendário dos outros. Bem lutava contra elas, as impostas, mas sabia que, mesmo que se esforçasse no dia-a-dia, quando se conseguia disciplinar para tal, havia sempre um gostinho residual na boca, à força da avalanche televisiva, radiofónica, do escaparate das lojas e da restante máquina de criação de necessidades onde elas não existem, que impunha algo de diferente, por muito parecido que fosse com outros dias não esperados. Felizmente, a mente feminina que não se consegue alhear da hipnose colectiva é a mesma que liga o interruptor logo que percebe um pequeno gesto mais afectivo.

Daí que, enquanto furava um conjunto de folhas para arquivar, se tenha recordado da pergunta mais feminina de todas e tenha arquitectado, perdão, engendrado, que a acção seria muito mais executiva, um plano infalível. Agarrou no lápis, que é como quem diz no rato do computador e desenhou um punção para executar na serralharia. Desenhou uma matriz com a mesma forma e pediu ao seu mais dotado mecânico que a montasse no furador. Foi, então, comprar uma cartolina vermelha, que se entreteve a recortar enquanto sorvia um café em pequenos goles. Abriu o frasco de perfume comprado para o efeito e juntou-lhe todos os pedacinhos recolhidos.

Quando o momento chegou, colocou o embrulho em cima da mesinha de cabeceira e esperou pela pergunta fatal: “Gostas de mim, gostas?”. Sorriu e respondeu “Sim” como habitualmente, matreiro, à espera da pergunta disparada logo de seguida: “Quantos ...”. Desta vez não a deixou terminar a frase. Calou-lhe os lábios com o dedo indicador, pegou no frasquinho ainda embrulhado e respondeu: “Tanto quantos os corações dentro deste frasco”.

Acertou na reacção dela. Só não previu que o perfume se evaporaria antes do final da noite.

2007/02/12

Extravagante, mas poucas vezes.

Na senda do post anterior e dado que realmente estou convencido de que a data de nascimento tem uma grande influência no comportamento de cada um de nós, fui à procura dos defeitos daqueles nascidos sob influência da mesma constelação que rege a minha maneira de ser. Encontrei o que se segue:

Pontos Fracos

Problemático, Provocativo, Argumentador, Crítico, Rígido, Autoritário, Rebelde, Imprudente, Contraditório, Confuso, Dogmático, Temperamental, Inacessível, Dominador, Egocêntrico, Compulsivo, Irritante, Difícil.

Temperamento

Um sagitariano nunca se ilude com as aparências e emprega instintivamente um julgamento sólido. Sua expressão resulta de uma mistura de intelecto e de emoção. Apesar de sua natureza idealista, não é um sonhador, mas tem capacidade para conduzir seus ideais a um nível prático.É um executivo natural, tanto dando ordens como recebendo. Seus talentos se expressam melhor numa atmosfera amistosa. Tanto no pensamento quanto na ação vai direto ao assunto, preocupado mais com a eficácia do que com a elegância. Agressivo e impulsivo, é preciso seja freada sua natureza franca e sincera para não ofender os outros.Como sua forte intuição forma rapidamente opinião sobre as oportunidades e reage a elas com a mesma rapidez com que ela se apresenta. Quando está cansado ou tenso, age com julgamentos impulsivos e conclusões apressadas. Deve procurar aliviar sua natureza altamente sensível com recreação ao ar livre, livrando-se do risco de explosões de gênio e ataques de nervos.Inclinado à filosofia e entusiasmado, afasta de si o mau humor e o pessimismo. Sua jovialidade e amor a liberdade lhe permite várias oportunidades de elevar-se acima de quaisquer pensamentos depressivos. Sua sinceridade e bondade de coração levam-no a ser caridoso e a lutar pelo direito dos outros. Sua melhor qualidade é a lealdade.Sua pior característica é a leviandade. Quando fica inquieto, abandona o bom julgamento e torna-se extravagante, agindo de maneira ridícula e excêntrica. Sua maneira descomprometida leva-o a se envolver em jogos ou situações indesejáveis. Deveria procurar um trabalho na vida tão interessante para ele que se tornasse um jogo em que o único risco seria o sucesso.

Profissões
Publicidade, editor de livros, radiodifusão, jornalistas, filósofos, relações públicas, locutores de rádio, professores, agentes de viagem, aeromoças, pilotos.
Texto retirado daqui.
O texto está escrito em português do Brasil, não encontrei melhor em sítios nacionais.
Devo dizer que me identifico em muito do que ali está escrito, embora haja coisas com que não concordo. A educação das pessoas também tem influência no comportamento.
Acrescento, ainda, que não vou a correr comprar um bilhete da lotaria só porque a previsão astrológica diz que vou ter sorte esta semana. Nem escolho amigos com base em compatibilidades astrais, embora constate que há uma empatia diferente com pessoas nascidas sob certos signos.
Já agora, a talhe de foice, deixo uma pergunta, em jeito de teste:
  • Preferes passar uma semana em Bora-Bora, num daqueles resorts sobre águas azuis em cabanas individuais com banheira de hidromassagem ou uma viagem costa a costa nos Estados Unidos, em automóvel alemão de grande cilindrada, pernoitando em motéis de qualidade superior, com visita ao Grand-Canyon?

Garanto que esta simples pergunta já permite diferenciar bem as pessoas.

Quanto às profissões, a minha não é nenhuma das de cima, mas tem efectivamente poucos riscos e o sucesso é um deles. Sucesso, Marta, no sentido de ser reconhecido como um profissional competente.

E já aqui disse que tenho simpatia pela profissão de piloto. E de motorista de longo curso. E de agente de viagens.

2007/02/09

Olhá novidade!

Your True Love Is a Sagittarius

Why you'll love a Sagittarius:

Deep and philosophical, you'll love getting lost in hours of conversation with your Sag.
Your Sagittarius is curious and adventurous enough to keep you interested... not an easy task!

Why a Sagittarius will love you:

You're passionate about a few important issues, a kind of depth that Sagittarius finds very attractive.
You're outgoing, flexible, and up for almost anything. You and your Sag will have tons of adventures together.



Assim fico mais descansado (ainda...): parece que me conheço bem.

A questão é que não é fácil passar a vida com os nossos defeitos, mesmo que a soma de virtudes seja algo para lá de maravilhoso.

Então e se eu "aldrabar" o teste e procurar o que falta em mim? Não, penso que o espírito das perguntas não permite. Ainda bem!

2007/02/08

Notícias do galo Kellogs

O mocito é bom de bola. Foi mal aconselhado durante muito tempo, primeiro quando saiu do único clube onde poderia realmente transformar-se no melhor do mundo, depois por ter ido tão novo para outro clube onde a presença de tantas vedetas inevitavelmente o abafou. Por fim por ter renegado o seu passado e deixado iludir pelos mesmos que agoram adoptaram o galo da Kellogs para símbolo.

A bola tem uma época intermédia de transferências no primeiro mês de cada ano. Não se falou do rapaz. Agora, menos de duas semanas após o final de Janeiro, ele já está certo num grande clube, no final da época? Ó pá, só pode ser estratégia da concorrência para lhe deitar o moral abaixo!

2007/02/07

Olha lá se não sou capaz!

Com estes animais de estimação que eu lhe ofereci, não há lambisgoio nenhum em cuecas que se atreva a passar para lá das ondas.

Sim, sim, revoltei-me! Cansei-me de ver os delambidos da arqueira, assim sempre tenho vistas mais retemperantes...

Só pode!

E agora uma incursão em tom mais leve (até ia escrever em inglês mas, depois de ter ouvido o senhor dos domingos à noite usar a palavra no âmbito do referendo próximo, vou guardá-la na gaveta enquanto me lembrar).

"You don't even know the meaning of the words I'm sorry".

Há vozes que vêm directamente do céu!

2007/02/06

O sucesso

A cozinheira Marta, a quem bastará tratar tão bem dos alimentos como trata as palavras para que seja um deleite para os estômagos mais exigentes, focou um tema que, em dias mais ventosos, me costuma assaltar o pensamento. Apropriando-me, pois, de tema alheio, e tendo como desculpa não me sentir à vontade para lhe monopolizar a caixa de comentários, cá vai uma reflexão pessoal sobre o vasto tema do sucesso.

Tendo nascido no seio de uma família com acesso à informação, com nível educacional mais elevado do que os recursos financeiros de que dispunha, faço parte de uma geração educada com base na segurança do canudo. Tenho ainda a felicidade de aprender com facilidade e de compreender com relativa rapidez os mecanismos de ascensão social. Partindo, então, do princípio de que a frase anterior é verdadeira, e referindo pelo caminho que tenho tudo aquilo de que preciso, incluindo no campo económico – e deixa-me bater no tampo da mesa, toc, toc, toc, que não sou supersticioso mas nunca fiando – passo a explicar o meu sentimento actual acerca do assunto.

A dita educação do canudo não ficou por aí, ou seja, estava assente noutro pilar fundamental que era a suficiência daquele para se ser uma pessoa importante, o que quer que isso queira dizer. Nos tempos que correm, já não basta ter o dito papel, dando aqui o benefício de que alguma vez terá bastado. E vivemos tempos em que uma das formas de ser importante é trabalhar muito e conseguir reunir e utilizar mais informação do que os restantes competidores. Podia falar aqui num termo arrepiante, muito bem visto em certos círculos académicos e de jovens licenciados e afins, que dá pelo nome inglês de Workaholic, mas desconfio que me iria perder pelo caminho e ficaria suficientemente irritado para perder o raciocínio.

Posto isto tudo, e tendo ido espreitar o link atrás, estou em condições de dizer que, em tempos, estive convencido de que ter sucesso estava intimamente ligado à profissão, ao dinheiro e ao reconhecimento social. Neste ponto tenho que acrescentar mais uma das minhas quase-certezas, que diz que a vida nos conduz, com maior ou menor intensidade, em função das escolhas que vamos fazendo. E as que fiz, em termos profissionais, levaram-me a um lugar muito confortável, sem grande agitação, sem grande destaque, relativamente bem pago – na classificação da satisfação retributiva, no inquérito anual, respondo sempre com a classificação 1, entre 1 e 5, mas isso são outros quinhentos, incluindo a comparação com os colegas do lado – mas podia estar em lugares onde até ganharia mais, trabalharia mais, sobretudo perdendo tempo em deslocações e reuniões de duvidosa eficácia. Na minha profissão, até poderia estar em qualquer parte do mundo, ganhando muito dinheiro à custa de tudo o resto.

Devo, no entanto, em nome da verdade, dizer que nem sempre fui capaz de prever as reais consequências das minhas escolhas, não tenho essa capacidade, senão estaria em casa de todos ao domingo à noite. Procuro a sorte, isso não nego, até porque não escolhi o dia de nascimento, sou mesmo algumas vezes inconsequente, mas, neste momento, o meu sucesso, a partir do conforto de que disponho, centra-se muito mais no bem estar dos meus, no seu encaminhamento, na mitigação desta sede constante de conhecimento do mundo que me rodeia, quer físico, quer dos segredos da mente, na procura dos meus limites, do que nos bens materiais que possa ter ou na promoção do meu nome com vista à inclusão em listas de programas televisivos de insignificância comprovada.

O que não posso garantir é que se não tivesse interrompido precocemente a minha tão brilhante quanto curta carreira de dirigente associativo no ensino secundário, não estivesse agora preocupado em justificar o argumento do colega da porta ao lado relativo à competitividade internacional dos baixos salários.

2007/02/05

Sim, com certeza!

Dei por mim a criticar os movimentos do “Sim” pela falta de mobilização, pelo menos tendo em conta o que vejo na comunicação social e o receio de que, oito anos passados, continuemos na estaca zero e passemos mais não sei quantos anos a falar em novo referendo e a manter mais um dos tantos mecanismos que nos levam a discutir todas as questões acessórias em torno de um assunto, desviando-nos do que realmente interessa e que é, tão somente, o progresso na busca de uma sociedade justa.

Pensei então que eu próprio não estava a contribuir para o passo na direcção que considero correcta, por dar mais importância ao dia-a-dia e me escudar no desgastado relógio. Ora, como não estou disposto a procurar iniciativas do “Sim”, o melhor contributo que consigo dar, a par com alguns comentários em blogues que vou visitando, é deixar aqui a minha posição e justificá-la da melhor forma que o meu capilar literário me deixar fazê-lo.

Vou votar “Sim” por várias razões, dentre as quais destaco as seguintes:

- A esmagadora maioria das mulheres pratica a interrupção voluntária da gravidez consciente de que é a melhor opção para o seu futuro como mulher, sendo que o conceito de maternidade continuará bem vivo dentro de todas; as que já são mães defendem o futuro dos filhos que têm e as que ainda não o são terão de futuro melhores condições para criarem crianças bem formadas;
- Sou contra o país do “faz de conta”, onde as leis existem para que as pessoas saibam que podem ser punidas se prevaricarem, mas só se alguém fizer muito alarido ou aparecer um oficial de justiça fundamentalista; no limite, e para fazer de conta que o país é sério, a legislação aplica-se aos que não têm possibilidade de contratar um advogado influente, a quem se permite o recurso a um dos inúmeros mecanismos de contorno da lei.

Devem apoiar-se as mulheres que, corajosamente, decidem serem mães em condições precárias, evidentemente. Devem ser seguidas e aconselhadas as que apresentam maiores dificuldades, pelas mais variadas razões, em realizar o planeamento da sua família. Mas não concordo que se transforme um acto médico simples, quando realizado em condições, num acto criminoso. Não se aponta o dedo a uma mulher, ou a um homem, que recorre a métodos de interrupção da fertilidade. Não se criminalizam mulheres que, todos os meses, desperdiçam um óvulo, quantas vezes já fertilizado.

Só me irrita ouvir discursos inflamados em torno de questões enviesadas, com ligações mirabolantes ao tema em causa, à boa maneira portuguesa. E até não-questões, muitas delas a roçar a desonestidade, como a de vir pôr em causa, à boca do referendo, uma pergunta formulada há oito anos e recentemente aprovada por larga maioria na assembleia da república.

Eu voto “Sim”.

2007/02/01

A propósito do guarda-roupa

Em demorada e aturada visita ao guarda-roupa, e também ao armário do quinto andar, que não mencionou mas também não precisava, a Maria_Árvore brindou-nos com mais uma tão brilhante quanto sintética perspectiva do universo masculino. Disse universo? Foi da comoção da leitura, leiam, por favor, do núcleo atómico, constituído por um único protão e respectivo neutrão, talvez acompanhados por algumas outras partículas que, já li por aí, alguns brilhantes físicos têm descoberto no centro do que outrora se considerava como a mais pequena partícula que ainda mantinha as propriedades do elemento do qual fazia parte.

Diz, então, a bela Maria_Árvore, bela porque quem assim escreve só o pode ser, independentemente do que o espelho devolva ao seu globo ocular, acaba por só embater no denominador comum de gajos que querem conduzir as mulheres como na tradição das danças de salão. Ora ao ler esta frase magnífica tive dois pensamentos separados apenas por um ou dois minutos.

O mais célere foi que cada vez conheço mais homens que só querem ser conduzidos, e deixarei cair por terra uma imagem paralela de que talvez fosse o que já se passava nos ditos salões. Admito que, na sequência de uma condução pautada pela escolha repetida do caminho mais rápido e eficiente, a que se junta o tédio provocado pela ignorância da vontade nunca abertamente confessada de deixar de ser a condutora de serviço naquele veículo, adicionando a inércia própria do género conduzido e a estreiteza de vistas que o leva a pensar que todas aquelas que passam na rua é que o faziam feliz, como se tal dependesse de um estalar de dedos, alguns homens acabem por ceder a este último impulso, recomeçando novo ciclo de viagens, isto se não forem antes postos em casa de quem assim os educou.

Mas foi nesse momento que fiz a inevitável introspecção – e já estou a imaginar este pensamento aí em certas cabecinhas de raciocínios relampejantes: “Já pensaste no teu caso?” Vai daí que me recordei que tenho a convicta ilusão de que sou eu quem conduz. Pelo menos nos automóveis é assim, só passo o volante quando estou mesmo muito cansado, o que, até hoje, é raríssimo acontecer! Quanto ao resto, consigo lembrar-me de uma situação – ou terão sido duas? – em que disse “Hoje estás por minha conta!” e que até correu bem. Até me recordo daquela em que, a meio, ouvi, em tom uma oitava acima do normal, que corria sempre mal, mas no final até fiquei com a nítida sensação de que tinha gostado.

Em jeito de conclusão, acho que se nota que gosto de mecânica. Mas se tivesse nascido cem anos antes, gostava de ter sido construtor de automóveis.